Meu relato de parto

Compartilho aqui o meu relato de parto, que começou a ser escrito em posts do Instagram, quando Elis fez 1 aninho.

 

P_20180614_031935Parte 1

Um ano, Elis! Na noite do dia 13 de junho, vieram os primeiros sinais da sua chegada. Às 20h30 saiu um pouco de tampão e às 23h45, mais ou menos, as contrações começaram a doer. Eu avisei a doula @flaviapenedo_doula e à nossa fotógrafa @ericasoaresfotografia que estavam suportáveis e que a gente ia começar a monitorar. Minha última mensagem foi: vou tentar dormir. Mas não consegui. Em pouco tempo já contraia de 3 em 3 minutos, vocalizava e lembro de ter pensado “acho que está indo rápido demais”. Seu pai @dyomenezes assumiu a comunicação com a equipe. A doula chegou por volta de 2h. Usou uns óleos cheirosos, colocou uma playlist de mantras. Nossa! Que alívio! Mas ao mesmo tempo as contrações ficaram cada vez mais fortes. Os intervalos eram muito prazerosos, mas o pico das contrações estava cada vez mais difícil de suportar. Eu queria fotos do trabalho de parto em casa, mas não conseguia pensar se era hora ou não da Érica vir. O papai a chamou, mas quando ela estava a caminho, veio uma contração que me fez querer subir pelas paredes. Me assustou. E eu quis ir pra maternidade. O único registro que temos dessa parte é essa foto borrada, tirada pelo papai com o meu celular. Viola está em primeiro plano, eu estou sentada na bola e a Flavia faz massagem em mim

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[Parte 2]

Papai pediu para a nossa fotógrafa @ericasoaresfotografia segurar o Uber ao chegar para que a gente fosse pra maternidade nesse mesmo carro. Lembro que a @flaviapenedo_doula conversou com a obstetra @anafialho.obstare quando chegou e avisou que a gente ia ficar um pouco mais em casa. Logo depois teve que ligar de novo, porque eu mudei de ideia após uma contração sinistra, rs.

Frame CarroEu perguntei pra Flávia: “não é possível que eu esteja com 2 cm, né?”. E ela respondeu o óbvio, rs. Que sim, era possível, e que se fosse o caso a gente voltaria pra casa. Mas a cada contração eu tinha mais certeza de que vc estava chegando. Peguei minha bolsa vermelha, um travesseiro azul, mais algumas coisas importantes e fui pro elevador. Seu pai correndo de um lado pro outro, pegando as malas, colocando comida pra Viola e fazendo sei lá eu mais o que. Veio outra contração bizarra e eu esmurrei a porta do elevador: “Vamos!!! Quero ir embora!!!!”. Entrei no carro, fechei os olhos e torci para que não demorasse muito. O motorista comentou que o túnel Santa Bárbara estava fechado e eu quase me desesperei pensando que a gente teria que ir pela Lapa, mas por sorte não estava. Andar de carro em trabalho de parto é muito ruim, eu já tinha acompanhado várias mulheres nesse momento e sabia muito bem o que me aguardava. Fiquei de frente pro banco, na posição mais confortável, e a Flávia foi fazendo massagens. Mal olhei para a Érica, que começou a fazer os registros ali mesmo. Eram 3h30

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marina-morena-2[Parte 3]

Chegamos na maternidade por volta de 3h40 da manhã. Dei um urro na recepção e falei: “não to aguentando mais”. Mas nos intervalos eu respirava, me acalmava e sabia que estava conseguindo, estava tudo bem, vc se mexia, estava tudo bem com a gente. A @flaviapenedo_doula segurou minhas mãos e falou algo que não me lembro. O segurança nos disse que a gente não podia ficar ali, tínhamos que ir para a emergência, no 1o andar. Peguei meu travesseiro azul e segui pelo caminho que já tinha feito tantas vezes, acompanhando mulheres em trabalho de parto.

No caminho para o elevador, mais uma contração. Desta vez, em vez de vocalizar “aaaaah”, veio um urro visceral, totalmente involuntário: “rrrrrrrrrr”. Me curvei pra frente, apoiando na parede e na doula. Seria um puxo? Será que estou no expulsivo? Mas já? Será que ela está bem posicionada? Minha obstetra vai chegar a tempo? A minha cabeça de doula não parava de funcionar. Vc ficou posterior no final da gestação e eu estava preocupada com um parto com vc nessa posição (tende a ser mais longo e doloroso, com maiores chances de cesárea).

marina-morena-6Em algum momento a obstetra @anafialho.obstare apareceu (no vídeo da @ericasoaresfotografia ela aparece dentro do elevador com a gente, mas nem vendo as imagens entendo como ela foi parar ali). Da emergência fomos direto pra sala de parto. Esperamos apenas a liberação da internação que seu pai @dyomenezes foi fazer. Não fui examinada, não passei por nenhum toque no trabalho de parto, nem em toda a gestação. A Ana não tocou porque não há indicação de toque de rotina. É possível diagnosticar que a mulher está em trabalho de parto pelo padrão das contrações e pelos sinais que ela e seu corpo dão. Também é possível identificar se o bebê está descendo pelo foco da ausculta fetal (onde está o coração do bebê). O toque pode ser feito para avaliar a progressão do trabalho de parto, mas de 4 em 4 horas, e se necessário. Tocar pra que? É um exame incômodo, que pode aumentar o risco de infecção e que não deveria ser tão banalizado como é.

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marina-morena-17[Parte 4]

Chegamos na sala de parto e a banheira já estava enchendo. A @flaviapenedo_doula me perguntou se eu queria tirar o top e colocar o sutiã de renda (coloquei no meu plano de parto que gostaria que ela me lembrasse disso, rsrs). O plano de parto é um documento que a mulher (ou a família) escreve dizendo como gostaria que o passo fosse. Uma forma de empoderar a mulher, que busca se informar sobre as etapas e as possíveis intervenções no corpo dela e no bebê. É também uma ferramenta maravilhosa para mentalizar o processo e visualizar como você gostaria que tudo acontecesse. Nossa mente, filha, é poderosa demais.

marina-morena-48Entrei na banheira e foi um grande alívio! Que delícia ficar dentro da água com o chuveiro caindo nas costas. Quando vinha uma contração, parecia que nada daquilo aliviava, mas ela passava. Como uma onda, vinha, me arrebentava e ia embora. E eu relaxava nos intervalos. As contrações começavam mais leves, atingiam o tamanho de uma montanha, (me) arrebentavam e depois iam embora. E vinha a calmaria. Eu ficava surpresa com a força e a potência dessas ondas. “Meu corpo está produzindo isso. UAU!”

De repente as contrações ficaram mais espaçadas. Intervalos mais longos e prazerosos. Era o final da fase de transição. Uma pausa fisiológica para o meu corpo descansar e se preparar para o expulsivo. O seu nascimento estava próximo…

marina-morena-64[Parte 5]

Entrei no período expulsivo, que é quando o colo do útero atinge dilatação total, permitindo que o bebê desça pelo canal vaginal. Como eu já te disse, não fui tocada no trabalho de parto (nem na gestação), mas sei que estava nessa fase porque sentia muita vontade de fazer força e a dor na lombar que comecei a sentir era diferente das contrações da dilatação. Dizem que essa parte dói menos, mas pra mim não sei se foi bem assim. Doía muito a lombar, e quase não havia alívio dessa dor. Senti um POC quando estava na banheira e avisei a todos: “a bolsa estourou!”

A dor na lombar e os puxos que chegaram tão rápidos me fizeram achar que vc estava posterior, olhando pra frente e não pro meu bumbum, uma posição que vc ficou bastante durante a gestação e que significa um parto mais doloroso, demorado e uma maior chance de cesárea. Perguntei pra Ana: “essa vontade de empurrar é ela?”, e ela sorriu fazendo sim com a cabeça. Na verdade eu queria saber se era vc que estava chegando ou se era a posição posterior que estava me dando aquela sensação (a mulher sente dor na lombar e “puxos falsos”). Não consegui verbalizar isso e achei melhor deixar pra lá, rs

Pedi para desligarem a música, porque eu estava cantando mentalmente e tinha a sensação de estar muito no racional. Eu tinha receio de ficar ouvindo os gritos das outras mulheres e os barulhos que as pessoas fazem no corredor, mas o silêncio e os ruídos me ajudaram a entrar em um estado de transe muito maior do que a playlist, que fiquei anos elaborando e ouvindo diariamente na gestação.

marina-morena-46Os puxos vinham fraquinhos, eu fazia força, mas logo parava a vontade de empurrar. E a dor na lombar estava me matando. Eu me apoiava nas pernas do papai na banheira e apertava firme a mão dele a cada contração. A Flávia tentou usar um lençol como um rebozo para eu relaxar o quadril e a lombar, mas eu sabia que a dor só ia passar quando vc nascesse e eu entrei numas de “ta perto, falta pouco, ela vai nascer logo”. Olhei ao redor e tinha um pouco de cocô na água (super normal, todo mundo faz e é mais um sinal de que o bebê está perto de nascer), me deu um certo nojinho e fiquei com a sensação de que as contrações não estavam efetivas ali. Pensei: “vou sair daqui para ver se ela nasce mais rápido”.

marina-morena-113[Parte 6]

Fui pra banqueta. Sentia vc se mexendo, sentia que tinha espaço para vc nascer. Os puxos vinham, eu empurrava, mas faltava um pouco ainda, não sentia vc coroando, aquela queimação do círculo de fogo. Então eu poupava minhas energias, empurrava, mas sabia que ainda podia demorar. Comecei a sentir um cansaço, uma vontade de dormir e fui pra maca ficar em quatro apoios, na postura da criança (balasana). Pratiquei muito na gestação, é muito confortável, permite alongar a coluna e relaxar a cabeça, ombros, braços, entregar o peso do corpo para o solo. Mas nessa hora foi horrível, hahaha, doía muito!

Voltei pra banqueta e quando comecei a sentir a tal ardência, pensei “agora ela nasce logo!”. Mas que nada, ainda passou quase uma hora até o seu nascimento. Eu sentia que meu períneo já estava no máximo do máximo do máximo de estiramento, mas colocava a mão e sentia que só um pouquinho da sua cabeça estava pra fora. E a cada contração eu descobria que existia um máximo ainda mais além do que eu imaginava ser possível alcançar, rsrs. A ardência foi bem difícil pra mim, uma queimação muito esquisita, sensações estranhas, diferentes do que eu imaginava que sentiria. Nessa hora eu só queria que acabasse logo, que vc nascesse na próxima contração… seu pai tentava me incentivar com frases fofas como “ela vai nascer na contração certinha”, “você consegue!”, e eu tinha a vontade de dizer que ele não fazia ideia do que eu estava passando, rsrs, mas só conseguia responder: “ta bom, ta bom, não fala nada não”, rsrs, ou algo do tipo.

marina-morena-125Eu lembrava de abrir bem e boca e relaxar a mandíbula entre as contrações, para relaxar a musculatura do períneo, porque quando relaxamos a boca e vocalizamos, o assoalho pélvico também relaxa. Várias vezes a Flavia me orientou a relaxar os ombros. Eu só pensava em respirar e me manter calma.

Levantei, dei uma rebolada segurando no rebozo, a Flavia sugeriu que eu andasse, e minha vontade era responder “cê tá loka, miga?”. Eu estava muito determinada que vc nascesse logo naquela banqueta. Mas vc não estava tão a fim de pular pra fora da minha barriga não, rsrs.

marina-morena-146[Parte 7]

A queimação foi aumentando, aumentando, passando muitas vezes do insuportável. Minha sensação era de que minha vagina estava seca. Falei isso para a Ana e ela perguntou se eu queria uma compressa quente. Falei que sim, mas quando ela começou a aplicar, foi como se alguém jogasse querosene em uma ferida aberta. Muito desconfortável e eu não conseguia falar que não estava bom. Pouco depois disso, senti que vc tinha parado em um lugar horrível, como alguém que abre uma porta de tecido, mas fica lá bem no meio, segurando as bordas sem entrar ou sair. “Ta num lugar horrível! Tem que sair daí, tem que nascer!”, e a Ana calmamente me disse que fora da contração vc não iria nascer. Eu chamava as contrações, falava “vem contração, vem filha”, tamanha a minha vontade de que vc nascesse logo. E finalmente vc veio. Eu empurrei, meio sem saber se ainda era contração ou não, a Ana estava direcionando levemente sua cabeça pra baixo, para evitar uma laceração e você veio em um tiro só. Incrivelmente rápido vc estava no meu colo. E eu só dizia “meu Deus, meu Deus!”.

Se doeu? Doeu. Bastante. Eu sabia o que esperar, já tinha visto dezenas de partos, mas é uma experiência muito pessoal. As sensações para cada mulher são diferentes, as dificuldades e até as lembranças da experiência. Foi como eu esperava e ao mesmo tempo completamente diferente.

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